segunda-feira, 28 de março de 2011

Cobras - O que você deverá fazer se for mordido por uma cobra venenosa


Prof. Dr. György Miklós Böhm
  
 Antes de mais nada, vamos dizer o que NÃO FAZER. Lamentamos desapontar você e contradizer todos os filmes, livros e histórias de aventuras, quando homens-macacos, heróis do faroeste, nobres selvagens e mocinhos de todos os tipos, aplicam torniquetes na perna, cortam os músculos com a faca, chupam o veneno com a boca e aplicam brasas, ferros incandescentes, fumo, bosta de vaca e outros remédios heróicos sobre a mordida de cobras.
Não faça nada disto. Nem o torniquete. Tampouco aplique pó de café, querosene ou teia de aranha, seguindo a sabedoria popular. Hoje, a experiência nacional é muito grande e sabe-se que todas essas tentativas de cura, consagradas ao longo dos tempos, só prejudicam. Repetimos: não faça intervenção alguma, é melhor. Procure manter a calma: lembre-se que a maioria dos acidentes ofídicos não matam nem mesmo quando não tratados; lembre-se que a soroterapia resolve seu caso, mesmo se instituída muitas horas – 6 a 12 horas – depois. Se sentir dor, tome um analgésico.

"Se tiver ampolas de soro anti-ofídico por perto?"

Primeiro considere as condições de armazenamento. As ampolas de soro anti-ofídico devem ser conservadas em geladeira entre 4oC e 6oC positivos; na temperatura ambiente duram pouco: alguns meses. A seguir, observe a validade dos soros, pois é muito comum estarem vencidos há anos. Depois de certificadas as condições de estocagem e o vencimento das ampolas, elas devem ser aplicadas mas não por você, sobretudo se estiver sozinho. É um remédio para mãos experientes. A soroterapia tem suas dificuldades que colocaremos logo mais. Busque socorro e leve as ampolas consigo.

O que fazer?

Procure imediatamente chegar ao primeiro centro médico que tiver a seu alcance e transmita suas observações (aquelas quatro observações mencionadas no texto sobre o "reconhecimento das cobras venenosas") à primeira pessoa que lhe socorrer, a fim de que, em caso de desmaio, haja alguém para prestar informações ao médico. Se estiver fácil, lave o local da mordida com água e sabão mas não perca tempo: procure um centro médico

O que é que o médico vai fazer ?

Ao chegar no posto médico, sua história será ouvida enquanto a região mordida for lavada. Depois seguirá um exame cuidadoso. As primeiras preocupações serão de diagnosticar o tipo de cobra responsável pelo acidente e avaliar a intensidade do envenenamento. O médico procurará examinar bem as alterações locais, isto é a região em que você foi picado e, também, as suas condições sistêmicas ou gerais.
A região mordida por cobras dos gêneros Bothrops e Lachesis são os que mais provocam manifestações locais. Aparecem a dor, o edema (inchaço), hemorragia, bolhas na pele, reação inflamatória, com ou sem infecção, e a necrose (morte do tecido), em graus variados. Quanto mais intensos forem esses sinais, maior dose de soro será lhe administrado. A cascavel e a cobra coral não costumam dar sinais locais importantes, a não ser quando é aplicado garrote, incisões a faca, etc... Contudo, a primeiro costuma deixar sinais evidentes da picada, visto que suas presas são bem desenvolvidas, enquanto que a segunda, praticamente, só deixa escoriações.

Os aspectos sistêmicos variam bastante: 


  • As cobras dos gêneros Bothrops e Lachesis causam hemorragias várias, das gengivas, do tubo digestivo e dos rins, principalmente. Também provocam choque (queda da pressão arterial) e insuficiência renal. A surucucu tem neurotoxicidade maior e, portanto, pode causar choque mais precocemente do que a jararaca, devida uma forte estimulação vagal (sistema nervoso autônomo).
  • A mordida da cascavel é seguida de náuseas e vômitos. Pouco tempo depois, nas primeiras 6 horas, aparecem queda de pálpebra, distúrbios visuais, dificuldade de movimentação dos membros e, até, dos movimentos respiratórios. São os sinais típicos da neurotoxicidade do veneno crotálico. A vítima também se queixa de dores musculares generalizadas, pois o veneno é miotóxico. Em fases avançadas, costuma instalar-se a insuficiência renal.

  • A coral é basicamente neurotóxica e impede a transmissão do sinal nervoso ao músculo. Seu veneno potente provoca queda de pálpebra, distúrbios visuais e paralisias musculares graves. Ainda bem que o animal é pequeno e, em geral, inocula pouco veneno.

Feita a avaliação, a equipe do hospital instalará a soroterapia, a mais específica possível. Você receberá de 4 a 12 ampolas de 10 ml cada, dependendo da gravidade do seu caso, por via intravenosa. Após o medicamento antiofídico, receberá soro glicofisiológico pela veia, a fim de evitar a insuficiência renal. Também lhe aplicarão uma injeção de soro antitetânico, profilaticamente. Se existirem complicações, como infecção, necrose ou insuficiência renal aguda já instalada, as medidas serão, respectivamente, antibioticoterapia, intervenção cirúrgica para remover os tecidos necrosados e diálise renal. Em caso de acidentes causados por cobra coral ou cascavel, o médico observará a ação neurotóxica do veneno e tratará de corrigir a situação com medicações que ajudam a neurotransmissão, que fica seriamente comprometida e provoca as paralisias.
Finalmente, o médico terá que observar cuidadosamente suas reações durante a soroterapia. É que, com certa freqüência, aparecem reações de hipersensibilidade, imediatamente na hora da administração do antiveneno ou até um dia após a mesma, que precisam ser controladas. Isto é feito com vários medicamentos simpatomiméticos (adrenalina, por exemplo) e anti-histamínicos. Considerando as reações de hipersensibilidade, é que se desaconselha que a soroterapia seja instalada por leigos. 

Fonte: Portal Saúde Total

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